Dê uma olhada no mundo atual. Nas folhas dos jornais,
revistas, reportagens da TV, internet, nas ruas da nossa cidade, em cada canto
do mundo... O que vemos? Injustiça, necessidades diversas, pobreza, doenças e fome.
Todas essas coisas caminham em um acelerado crescimento, assim como guerras e
conflitos sangrentos em inúmeros países do mundo, a corrupção e uma política
suja que se empenha em defender um grupo seleto, enquanto a situação alarmante
da grande maioria parece não perturbar as noites de sono dos senhores feudais do
mundo atual. No meio de tudo isso se encontra a Igreja de Cristo.
Amós foi o maior crítico social entre os
profetas da bíblia. Ele pertence ao grupo dos profetas menores. Somente 9
capítulos contam sua história. Os relatos da vida e atividades de Isaías e
Jeremias são muito mais longos, mas a mensagem de Amós supera em clareza e peso das
palavras os livros dos grande profetas.
Em meio ao oitavo centenário antes do
nascimento de Cristo, reinava em Israel um capitalismo
selvagem, que ignorava a situação da grande maioria do povo escolhido. Não
existia nenhum rastro de justiça social, muito pelo contrário, a massa vivia
sob a pressão de uma minoria que buscava se enriquecer às custas da pobreza dos
outros, e que não se envergonhava em usar meios sujos para obter ganho. A
tesoura social se abria cada vez mais aumentando a distância entre ricos e
pobres. Os fins justificavam os meios e assim não interessava a ninguém se a honra
e a dignidade do indivíduo, era pisava em prol dos benefícios de poucos. Famílias
que injustamente eram levadas a se endividarem, eram vendidas pelos ricos como
escravos para pagarem suas dívidas. “O
povo de Israel tem pecado sempre e sempre. Não poderei esquecê-lo. Perverteram a justiça aceitando
subornos, vendendo como escravos os pobres, que não podiam pagar as dívidas
contraídas; venderam-nos por um par de sapatos“ Diz Amós (2:6b)
As pessoas eram tratadas como animais de carga
ou como uma ferramenta que somente era amolada, enquanto o lucro justificava os
custos. Em caso de doenças ou velhice os mesmos eram abandonados. O valor de
uma pessoa era relacionado ao trabalho realizado pelo mesmo. Os proprietários
de terras exigiam a maior parte do fruto do trabalho dos pobres como pagamento. “Pisam
com os pés o pobre e roubam-lhe até ao mais pequeno tostão com taxas iníquas e
da usura. É por isso que constroem vivendas luxuosas, que nunca chegarão a
habitar; também não beberão o vinho das esplêndidas vinhas que plantaram.!“ diz Amos (5:11). Quem não possuía bens, não
herdava nada, quem não fosse proprietário de terra, quem somente possuía o trabalho
de suas mãos, esse era friamente abusado. “Escutem, vocês os comerciantes que roubam o povo, e
enganam os necessitados!“
Amós (8:4)
Pobres não tinham direitos. Corrupção e suborno
ocorria em cada esquina. Os ricos entravam em contato com seus amigos, e assim,
juízes e profetas falavam o que os mesmos queriam ouvir. (5:12; 2:12) Processar
um rico? Para quê? Todos sabiam que a justiça só era cega para a necessidade
dos pobres. Os comerciantes israelitas deixavam os preços
subirem, enquanto diminuíam a qualidade dos seus produtos. “Vocês que
escravizam os pobres, comprando-os por uma moeda de prata ou um par de sapatos,
ou vendendo-lhes trigo em mau estado de conservação“ Amos (8:6). Como fruto de uma sociedade em plena
decadência, a prostituição explodiu e assumiu as ruas das cidades da terra
prometida. O único bem que muitos possuíam era o próprio corpo e para não
morrerem de fome ou evitar que alguém da família terminasse seus dias como
escravo por causa de dívidas, muitos se vendiam nas esquinas da vida. Amós
chora: “Pai
e filho violentam a mesma mulher, desonrando o meu santo nome!“ (2:7b)
Quem despreza a vida de um ser humano e o trata
como uma mercadoria, despreza o criador! Deus não aquenta mais olhar essa situação:
“Ai
dos que vivem sossegados em Jerusalém e em Samaria e que gozam de tanta
popularidade entre o povo de Israel.“ (6:1) “Vocês repousam em camas de marfim, rodeados de
luxúria, comendo a carne de tenro cordeiro e dos melhores bezerros. Cantam
canções vãs ao som da harpa, imaginam que são grandes músicos, como era o rei
David.“ (6:4-5)
Amós urge como um leão! Nenhum profeta antes ou
depois dele criticou a injustiça social de forma tão clara. “Que bom que ele não
teve medo de dizer a verdade”, dizemos hoje! Interessante é perceber que da
mesma maneira que ele fala respeito da sociedade no dia a dia, da mesma maneira
ele fala sobre os cultos.
Amós 5: 21-24:
“Aborreço com veemência as vossas celebrações - a vossa
hipocrisia, honrando-me com festas religiosas. Não aceitarei os vossos
holocaustos e sacrifícios de gratidão. Nem sequer olharei para os vossos
sacrifícios de paz. Calem antes os vossos hinos de louvor - não passam de mero
barulho aos meus ouvidos. Não escutarei a vossa música, por muito bonita que
possa ser. O que eu quero ver é antes a justiça correndo como a poderosa
correnteza de um rio - como uma torrente abundante de boas obras.“
Assim diz Deus e não seu Profeta! Deus despreza
o culto do seu povo e ele diz basta! Oração, devoção, louvor que fedem! O povo
escolhido se ajunta, querem um encontro com o
seu Deus e esse os ignora! Lendo isso
pensamos: “Hoje em dia isso só acontece com as pessoas que só buscam a Deus
quando estão em dificuldades!“ Podemos realmente ter certeza de que Deus gosta
dos nossos cultos?
Os elementos dos cultos na época de Amós vem de um outro tempo. Hoje, nós não entregamos mais ofertas de alimento e gordura. Quando ofertamos alguma coisa, então nosso dízimo e ofertas. Nossas igrejas não cheiram com churrascaria. Nós também não comemos durante os cultos como os judeus e os primeiros cristãos. O lugar da harpa ocupa hoje guitarra e piano. Será que Deus se agrada mais da nossa música?
Os elementos dos cultos na época de Amós vem de um outro tempo. Hoje, nós não entregamos mais ofertas de alimento e gordura. Quando ofertamos alguma coisa, então nosso dízimo e ofertas. Nossas igrejas não cheiram com churrascaria. Nós também não comemos durante os cultos como os judeus e os primeiros cristãos. O lugar da harpa ocupa hoje guitarra e piano. Será que Deus se agrada mais da nossa música?
O motivo da crítica não é que Amós ou Deus
prefiram um outro estilo de culto ou louvor com músicas e instrumentos
modernos. Essas são as palavras de um Deus apaixonado e ao mesmo tempo ferido
pelo seu povo. Deus diz claramente o que odeia, o que fede, o que contamina os cultos,
e não são as músicas e instrumentos, mas sim as pessoas que estão podres!
Nesse ponto percebemos que a crítica social de Amós não é diferente da crítica das atividades religiosas. As duas são dois lados da mesma moeda! Seus cultos me assustam, pois, neles “a justiça não flui como a poderosa correnteza de um rio - como uma torrente abundante de boas obras!”
Direito e justiça é o que Deus procura entre o
seu povo. Ideais e obras justas. A palavra justiça
(Zedakah) pode ser traduzida como
fidelidade social. Isso é o que Deus tem em mente, uma relação social com a
qual podemos contar e que espelha o caráter de Deus. Justiça protege os fracos.
Justiça defende aqueles que necessitam de ajuda. Justiça não busca nunca o
próprio bem às custas dos outros. Justiça busca o bem comum. Deus é justo e seu
povo abandonou os caminhos da justiça.
Justiça e direito devem fluir como a fidelidade
de um rio que corre, mas os cultos, hoje, são um leito seco e não passam de um
encontro cultural, onde as pessoas se esquecem do mundo lá fora. Aqui, entre os
religiosos a aparência de um mundo saudável existe e disso ninguém quer abrir mão, ainda que tudo o mais vá
pro inferno! “Prossigam nos ritos de louvor, e dêem ofertas extras. Hão-de sentir-se
orgulhosos disso tudo, e falarão disso por toda a parte! “ Diz Amós (4:5)
Nessa época ocorre uma mudança fundamental nos
cultos. O povo, que durante a semana se esquece dos mandamentos de Deus,
procura se assegurar de que Deus está do lado deles. As pessoas buscam a benção
de Deus para suas vidas, para seus planos e idéias. O dia a dia fica do lado
de fora do lugar sagrado. A vida fora do templo é um território privado. "Negócios e fé, política e fé, esse tipo de coisa tem que ser tratada
separadamente!" Dizem! Lendo Amós penso que o mundo e até mesmo os perigos da fé não
mudaram nada nesses 2800 anos.
Tudo que a Deus ainda pertence, são as ofertas
e a língua dos fiéis, mas essa última somente durante os cultos. Seus ouvidos, coração
e mãos já se tornaram a muito tempo propriedade particular. Eles querem agradar
a Deus para usá-lo. Esse é o culto do povo santo nos dias de Amós. Assim eles transformaram
Deus em um deus. Eles fizeram do
Senhor um servo!
Seu perfume francês fede como fezes, se o seu coração está longe das pessoas! Quando tudo nas nossas vidas giram em torno dos nossos interesses
particulares; onde o valor, a vontade, e o bem estar dos outros se tornam concorrentes dos nossos alvos a podridao desse mundo invade o que deveria ser sagrado. Nesse
lugar, ainda que ele tenha aparência de santo, Deus é reduzido aos benefícios
que ele traz. Deus é cultuado enquanto ele nos abençoa. Deus se torna mais um
fator nas nossas vidas. Aqui reina o evangelho da prosperidade na sua forma mais pérfida e aqui reina o
diabo!
Deus diz basta! Seu povo fala sobre amor, mas dia
apos dia busca seus próprios interesses. Eles pregam a verdade e durante a
semana mentem. Eles falam que amam um Deus justo, mas a vida e o bem estar do
próximo não interessa a ninguém. Culto não substitui obediência! Pelo contrário
o culto desperta a obediência nas nossas vidas!
Deus não é contra cultos e encontros, mas ELE
grita contra encontros culturais religiosos ou pseudo-cristãos, onde a música,
a programação, a decoração e efeitos
ocupam o lugar de destaque, porem muitas vezes o coração está distante das pessoas ao nosso redor. Durante a semana
pisamos e empurramos as pessoas dos nossos caminhos e fechamos os nossos olhos
para a necessidade alheia e aos domingos cantamos ou escutamos lindos louvores e oramos pela nossa prosperidade.
Amós prega juízo. Somente em algumas poucas passagens
do seu livro brilha timidamente esperança. “Buscai-me e vivei!“ “Convertam-se dos seus maus caminhos. Voltem para
mim, então estarei presente novamente nos seus cultos!“
Onde está o evangelho, sim as boas-novas nesse texto? Essa pergunta é fundamental para a nossa leitura diária da bíblia. O evangelho aqui está com os pobres, doentes e explorados, pois enfim é restabelecido o direito dessas pessoas. Deus é um juiz justo que não aceita suborno e ele mesmo proclama aos pobres e oprimidos as boas-novas. Para os opressores sim existe juízo. Amós chama o povo a se arrepender e aqui encontramos o maior de todos os mandamento novamente! O amor deve ser restituido.
Nesse ponto nos perguntamos: “O que tem essa crítica do profeta haver com
os nossos cultos hoje?“ Afinal de contas esse texto se encontra no antigo
testamento e hoje em dia nossas igrejas são diferentes,
vivemos na graça!
Hoje podemos dizer que a Santa Ceia ocupar o
lugar de destaque nos nossos cultos. No início da igreja não existia cultos e
encontros sem ceia. Os primeiros cristãos comiam juntos, trocavam experiências,
consolavam e incentivavam mutuamente e compartilhavam suas necessidades. Os
pobres recebiam mantimento para a semana. Nos culto, na celebração da ceia
existia aquilo que o antigo testamento chama de justiça e que Jesus chamou de amor.
O amor de Deus por todos e a justiça entre os seus filhos. Na celebração da ceia nos lembramos da morte de
Jesus. Sua morte é a única oferta da nova aliança. Nós não precisamos mais
acalmar a Deus, influenciar ou subornar com nossas ofertas, para termos a certeza de que ele está do nosso lado! Deus é bom para
conosco e isso ele mostrou na cruz.
No entanto nossos cultos correm o mesmo risco
dos cultos na antiga aliança. Nós também podemos cair no engano pensando que
obediência significa apenas irmos ao culto. Nós também podemos tentar fazer das
nossas músicas, louvores e intercessões um substituto para a nossa obediência
diária. A frase de Keith Green ainda é tão atual como nos anos 80: “Ir à igreja
não faz de você um cristão, assim como ira o McDonald não faz de você um
Hamburger.” Não é o conteúdo das nossas canções ou onde eu
vou de-vez-em-quando, mas sim a quem meu coração durante a semana pertence, isso sim
decide, se eu vivo como cristão ou não. Tanto na antiga quanto na nova aliança prevalecem o
amor incondicional ao próximo em forma de fidelidade social.
Paulo diz em Romanos 12, 1: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.“
Paulo diz em Romanos 12, 1: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.“
Para finalizar quero enfatizar: O culto de domingo é simplesmente
uma forma especial do culto diário. O perigo dos Israelitas é também nossa
tentação hoje. Todos que creêm em Deus são tentados a abandonar seus caminhos no dia a dia, por causa dos próprios interesses.
Do profeta ouvimos hoje: Quem conhece a Deus, mas seu coração não pertence a
ele no decorrer da semana, essa pessoa não vai encontrá-lo em nenhum culto de
domingo. Mas também aprendemos de Amos hoje, que aquele que realmente busca a Deus,
esse sim vai encontrá-lo tanto no domingo, quanto no decorrer da semana.
Vamos buscar a Deus e não esquecer do nosso próximo.
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