quarta-feira, 1 de abril de 2015

O DESAFIO DA IGREJA / O DESAFIO IGREJA

Sempre amei mudança! Na minha infância mudamos de casa várias e várias vezes. Adorava ver os móveis sendo carregados e na noite antes da tão ansiosa mudança não dormia de tanto pensar como seria o dia a dia no novo lar. Tudo mudava. Os cômodos, a ordem das camas e móveis, a rua era outra, os vizinhos, o caminho para escola e trabalho. No entanto minha família, nosso modo de pensar e agir continuava como sempre. Mais tarde percebi que o que tanto esperava nas noites antes da mudança não era uma nova casa, mas sim uma mudança no nosso jeito de pensar e agir.



Em 1994 me mudei para a Alemanha. Nesses 20 anos tudo mudou. Hoje em dia não apenas vejo diariamente mendigos nas ruas da minha cidade e pobreza, um número maior de pessoas com sérios problemas psicológicos e criminalidade, mas também e principalmente um outro modo de pensar e agir, novos valores e perguntas,  anseios e metas. Tudo mudou. O mundo ao meu redor não é o mesmo de quando cheguei por aqui. E a Igreja?

Muitas vezes penso que a Igreja é como minha família na minha infância, olhando sempre a casa limpa e arrumada. A direção do nosso olhar é decisiva! Olhar para dentro é fácil. Nossos templos continuam sendo reformados cores modernas revistam as paredes das salas dos grupos, cadeiras mais confortáveis ocupam lugar no local, onde nos reunimos para termos comunhão e lermos a bíblia juntos, cantos modernos e novos elementos ocupam lugar nos cultos. Desse ponto de vista muitas coisas mudaram e assim nos sentimos bem nas nossas igrejas. Se olharmos no entanto na outra direção, para o mundo lá fora será impossível não dar razão para quem pensa que somos, como disse Cazuza se referindo a chamada elite brasileira, „um museu de grandes novidades“. O cantor tinha razão, o tempo não para, somos nós quem paramos no tempo. Muitas vezes penso o mesmo sobre a Igreja europeia.

Nos povoados da Idade Média só havia um açougueiro e uma igreja. A profissão  a seguir era a profissão do pai, as pessoas nasciam e morriam na mesma cidade, sem jamais por um pé fora dos limites da mesma. Como vivemos hoje? Hoje em dia se vou comprar Ketchupem um certo supermercado posso escolher não somente entre 20 marcas diferentes, mas também entre várias cores. Informação e educação são bens acessíveis a todos. Antigamente eram as coisas que não podíamos explicar o que nos levava a buscarmos ajuda e explicação em uma Igreja ou religião. Hoje em dia através da evolução científica e tecnológica, da psicologia moderna, da flexibilidade social, onde distância não mais existe o Pluralismo ocupou o mundo, respostas existem aos montes! Coisas, pessoas, filosofia, valores, cultura. Tudo se mistura. Cristianismo é somente uma dentre muitas outras opções. A mesma coisa ocorre com as escolhas morais. Moral não é mais absoluta. Se valores fixos não existem mais na sociedade europeia atual, o termo „verdade“, que desde o despertar da filosofia grega é discutido, é para o cidadão secular europeu hoje, mais do que nunca, „uma ilusão!“ Hoje em dia duvidar é quase saber! Opinião é algo que é „formada“ em um processo de discussão. Verdade é encontrada no todo da narrativa, no enredo de muitos. Ela precisa ser virada e revirada passando por caminhos de incerteza até gerar tolerância. Nos tempos pós modernos tudo é relativo.

O que a Igreja veria ao olhar para o nosso mundo moderno com sua verdade relativa? Seria possivel  notar que, para muitos, nós não passamos de uma opinião a mais, que nossa verdade é somente nossa é que como instituição, perdemos em credibilidade por falta de diálogo com a sociedade. Precisamos decidir se vamos continuar polindo nosso ego, ou se buscamos o diálogo com o mundo lá fora. O que vejo hoje são igrejas que permanecem vazias, ou são vendidas. Encontrar jovens nos cultos é uma raridade. Prédios de igrejas são vendidos ou se transformam em restaurantes, discotecas ou até em mesquita.

No confronto com a sociedade atual observo três mecanismos de defesa que desenvolvemos: a fuga em uma posição fundamentalista (Igrejas neopentecostais); reforço do tradicionalismo (Igreja Católica) ou no liberalismo (Igreja Luterana). Enquanto o tradicionalismo procura preservar valores e verdades existentes, o fundamentalismo se concentra na defensa ofensiva de valores e verdades perdidas e o liberalismo cai no "pode tudo". Observando no entanto as pessoas ao meu redor, percebo que o pluralismo de ideias, impulsos e opções gera no fundo insegurança. As pessoas que conheço e com quem convivo (as mesmas não são poucas) anseiam por relacionamentos profundos, buscam aceitação e segurança. A vida se tornou complicada, o tempo escorre pelos dedos e é difícil manter o controle sobre tudo. Um sentido de viver é hoje, talvez mais do nunca, a busca maior de uma geração sem certezas.

O que a Igreja poderia fazer? Ao invés de continuarmos entre nós zelando pelo que sobrou; partir para a ofensiva combatendo o que chamamos de mundo; ou liberando tudo, poderíamos buscar o diálogo. Para isso precisamos abandonar nossa área de conforto, começar a respeitar a opinião do outro, ouvir as críticas e trocar ideias, retendo o que é bom e esperando que Deus aja não tanto através das nossas palavras, mas sim através do nosso modo de viver e agir. Nós nos acostumamos com a posição de Mestres fazendo do nosso próximo um aluno. Claro que Jesus Cristo morreu e ressuscitou para nos mostrar o amor do Pai que nos leva a um relacionamento com Deus que quer transformar nossas vidas! Deus, a Bíblia, a vida e o ser humano no entanto permanecem em muitas áreas insondáveis e assim impossíveis de serem entendidas com a nossa razão. Deus tem a resposta para todas as coisas, nós ainda não. O melhor que temos para oferecer é essa comunhão com Deus que é amor que conhece todas as verdades: a minha, do meu próximo e a dELE mesmo. Se a Igreja europeia não sair da ofensiva ou defensiva e passar a buscar o diálogo com a sociedade, em pouco mais de 40 anos cristão será uma raridade. Algumas igrejas ainda crescem, isso devido mais aos filhos dos atuais fies do que de pessoas que se convertem. Fundamentalismo é motivo de escândalo, a segurança do tradicionalismo é traidora e o liberalismo é a morte da Igreja.

Minha família hoje é outra. Hoje como adulto vejo que não os tetos debaixo dos quais moramos nos levaram a mudar, mas sim a vida com seus desafios, a disposição de aprender com o outro e o diálogo foram o motivo da nossa mudança. É hora da Igreja fazer o mesmo.



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